por Carmélio Reynaldo Ferreira
É incrível como tanta gente esclarecida ainda se deixa pautar pela velha
e conservadora imprensa brasileira! Agora mesmo, o assunto que toma
conta da campanha da candidata do PT é o aborto. Ora, apesar da importância do tema, desde quando inventaram os debates
televisivos entre políticos que ele é usado para colocar o oponente na
defensiva. É um assunto complexo, envolve aspectos como respeito à vida,
convicções religiosas, saúde... Ou seja, exige explicações e argumentos que não
cabem no tempo cronometrado de uma réplica.Estimulando essa polêmica ao apregoar que o voto religioso contrário ao
aborto impediu o PT de vencer no primeiro turno, a mídia evita o assunto que
deveria dominar discursos e discussões neste momento: o destino da riqueza do
pré-sal. Nesta eleição, o que vamos decidir é o que a nação fará com essa
riqueza que, graças a um conjunto de fatores geológicos e políticos (imagine se
a descoberta tivesse acontecido no governo FHC ou se Lula não tivesse sido
reeleito em 2006) colocou nas mãos dos brasileiros. Temos, de um lado, a candidata Dilma Rousseff, cuja trajetória no
Governo Lula está ligada a essa fantástica descoberta (na qualidade de Ministra
de Minas e Energia), e com a decisão de usar os recursos oriundos do pré-sal em
benefício do povo brasileiro (no cargo de Ministra-Chefe Casa Civil).Do lado oposto se oferece um candidato que ocupa a alta hierarquia de
um partido que, no governo, se empenhou em privatizar as riquezas da nação, num
processo que consistia das etapas de sucatear, desmoralizar e vender. A
Petrobras escapou por pouco, talvez porque os oito anos de FHC não tenham sido
suficientes para dar cabo à sua grandeza e eficiência. Mas não vamos esquecer
que naquele governo do qual Serra foi Ministro do Planejamento e da Saúde
tentou-se descaracterizá-la, mudando o nome para Petrobrax, e a P 36, uma das
maiores plataformas de produção de petróleo do mundo, afundou no litoral do Rio
de Janeiro por falta de manutenção adequada, levando em seus tanques 1.500
toneladas de óleo bruto e um prejuízo de mais de 350 milhões de dólares para a
empresa. Esse mesmo candidato é apoiado por uma coalizão (PSDB, DEM e PPS) que,
no congresso nacional, se empenha em dificultar a regulamentação da exploração
do pré-sal, tentando impor regras que prejudicam a Petrobras. Mais do que pretender tirar de Dilma Rousseff os votos dos mais
religiosos, a colocação do tema aborto na pauta política serve para ocultar a
questão mais importante em jogo nesta eleição: quem se beneficiará com o
pré-sal? O povo brasileiro ou meia dúzia de empresas privadas sem
comprometimento com os interesses da nação.
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