quarta-feira, 20 de julho de 2011

Campanha - Lembrando as vítimas da Ditadura


LINCOLN BICALHO ROQUE - campanha pelas vítimas da Ditadura no Brasil

 Dando continuidade à campanha para não deixar que o Brasil e a Paraíba se esqueçam das vítimas da Ditadura, a Central Única dos Trabalhadores na Paraíba (CUT-PB) traz a história de vida e morte do Capixaba Lincoln Bicalho Roque, morto pela ditadura em 1973

Através do secretário de Meio Ambiente da CUT-PB, Edvan Silva, responsável por coletar as informações na mídia, a CUT-PB está disponibilizando o relato de vida das vítimas da Ditadura no Brasil. São trabalhadores e lutadores vindos inclusive da Paraíba que tiveram suas vidas ceifadas por lutar pela democracia e pela liberdade do nosso país.

A CUT-PB está divulgando os relatos através de seu blog (www.cutparaiba.blogspot.com) e nas mídias sociais (facebook e twitter - @cutparaiba) as informações sobre vida e morte destes heróicos personagens.
LINCOLN BICALHO ROQUE (1945–1973)
Filiação: Maria Augusta Bicalho Roque e José Sarmento Roque
Data e local de nascimento: 25/05/1945, São José do Calçado (ES)
Organização política ou atividade: PCdoB
Data e local da morte: 13/03/1973, Rio de Janeiro (RJ)
Capixaba de São José do Calçado, Lincoln cursou o primário no Grupo Escolar Bodart Júnior de Rio Novo do Sul (ES) e o Ginásio no Colégio Estadual do Espírito Santo em Vitória, onde tirou primeiro lugar, conseguindo cursar o segundo grau no Colégio Pedro II no Rio de Janeiro.
Sempre foi um excelente aluno, aprovado em todos os vestibulares que prestou para Medicina do Estado do Rio de Janeiro. Cursou um ano na Faculdade Nacional de Medicina (UFRJ), mas trancou a matrícula para estudar Sociologia na mesma universidade. Formou-se em 1967 e foi contratado como professor do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da UFRJ. Em abril de 1968, em razão de suas atividades políticas, teve aposentadoria compulsória. Tornou-se militante do PCdoB logo após ter participado da conferência de fundação do PCBR, no Rio de Janeiro, assim como fizeram Armando Teixeira Frutuoso e Manoel Jover Telles.
Trabalhou como sociólogo no SESC até passar a viver na clandestinidade em 1972. Participou do Programa Nacional de Alfabetização e integrou o Comitê Estadual e o Comitê Central do PCdoB. Antes da clandestinidade foi preso várias vezes. Após 1972 trabalhou para várias instituições usando outras identidades.
Pela versão oficial Lincoln morreu ao reagir às forças de segurança. Tinha 28 anos de idade. O corpo foi encontrado ao lado do Pavilhão de São Cristóvão (RJ) em 13/03/1973 com mais de 15 tiros. O cadáver teria entrado no IML/RJ no mesmo dia, como desconhecido, pela Guia N° 15 do DOPS. A necropsia, realizada no dia seguinte por Gracho Guimarães Silveira e Jorge Nunes Amorim, confirmou a versão oficial de morte em tiroteio.
Teria sido reconhecido pelas impressões digitais, segundo documento do DOPS/RJ, de 16/03/1973 e, retirado por seu irmão para o enterro realizado pela família, no dia 23, no Cemitério Jardim da Saudade (RJ). Sua morte foi divulgada pelos órgãos de repressão no dia 21/03/1973. A relatora do processo na CEMDP afirmou, baseada em provas anexadas, que era falsa a versão oficial apresentada e que na verdade Lincoln fora assassinado sob torturas no DOI-CODI do Rio de Janeiro, como provam os depoimentos prestados por seus familiares e ex-presos políticos na ação ordinária movida pela família de Lincoln junto à 3ª Vara Federal do Rio de Janeiro.
João Luiz de Santiago Dantas Barbosa Quental, companheiro de militância de Lincoln, preso no dia 06/03/1973 e recolhido à PE da rua Barão de Mesquita, onde funcionava o DOI-CODI/RJ, confirmou ter sido levado para uma praça em São João do Meriti, onde tinha encontro marcado com Lincoln. Ali, escoltado pelos agentes do DOI-CODI, viu quando Lincoln chegou ao local e foi preso, agarrado pelo cós da calça e pelos braços, sem esboçar qualquer reação. Acrescentou que, conforme orientação do partido a que pertencia - e Lincoln era do Comitê Central - os militantes não portavam armas nas cidades, pois o PCdoB defendia que a luta armada deveria ser travada no campo. Soube da morte de Lincoln dias depois, por outro preso, que lhe relatou ter a nota oficial informado que ele faleceu em tiroteio em um outro local.
Delzir Antônio Mathias declarou que foi preso no dia 01/06/1975. Como durante a tortura no DOI-CODI/RJ não falava nada, ameaçaram levá-lo para o delegado Fleury em São Paulo, dizendo-lhe que era corajoso como o Lincoln, que resistira muito às torturas, e que lhe passariam um filme para que visse em que estado Lincoln ficara. Amilcar Barroso de Siqueira, que em 1973 era estagiário no escritório do advogado Modesto da Silveira, afirmou que a família de Lincoln procurou o escritório ao saber que ele estava preso. Todas as tentativas feitas para localizá-lo tiveram resposta negativa.
A relatora do processo na CEMDP destacou que o documento feito pelo comissário do DOPS, Mário Martins da Veiga, funcionário de plantão no dia 13 para 14/03/1973, dizia que ao receber a mensagem telefônica às 19h30 sobre a morte de um “subversivo” no Campo de São Cristóvão, foi ao local e constatou que, realmente, ocorrera uma morte por volta das 20h, o que entra em contradição com o horário do telefonema.
O levantamento pericial, realizado por Luiz Leite Santiago e Brent Bastos, descreve o encontro do corpo, das vestes, os ferimentos, a chuva e a iluminação deficiente, concluindo que houve um homicídio, em circunstâncias a serem esclarecidas e atestam: “Com o cadáver nas proximidades não foram encontrados quaisquer documentos, pertences, ou outros elementos materiais (vestígios) de valor criminalístico que se pudesse relacionar ao evento da causa”. A própria perícia desmente a versão oficial ao constatar que ali não havia armas. A história da militância política de Lincoln já tinha sido tema de documentário do diretor Cacá Diegues, intitulado Oito universitários.

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